Remédio

Não tomarei

qualquer desses calmantes

que entorpecem os ouvidos,

que me deixam inquestionável

qual fosse o mundo já moldado

e seu sentido decidido.

Não viverei

como quem navega

rio sem curvas,

como quem voa

num céu sem nuvens,

como quem nega

as próprias rugas.

Prefiro o talvez

ao sempre e ao nunca.

Veja bem,

sequer me exigirei

ser zen pela saúde

sabendo que a inquietude

fez o artista em um temporal

esculpir o corpo de Buda.

Porque não me apartarei

da sinceridade que exige a vida

mesmo que a fantasia inexistida

seja a realidade porque sentida.

Não que eu viva

às vísceras a toda hora

mas prefiro a inquietude

mesmo no ar condicionado

à imaginar o calor

que deveras faz lá fora.

O remédio da vida:

o calor que nos aflora.

LRC
Enviado por LRC em 17/12/2012
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