Ruas da cidade

Pelas ruelas, vielas, janelas sem taramelas,

Ouvidos se querem prenhes

Barrigas se querem cheias

E fomes se querem ceias.

Pelos becos e botecos, palavras se pedem ecos,

Guardanapos se atoalham

Cachaça se faz whisky

Dor de cabeça dissipa.

Pelos muros rastros, tintas, mensagens a nós alheias,

Querem ser palavra fácil

Pimenta que incendeia

Boca de quem não tem voz.

Pelos bairros e seus morros, fazem-se novas favelas,

Barracos se querem casas

Tumultos se fazem golpes

Desejos se querem mais.

Pelos corpos e suas veias, pulsam, pululam vontades,

Sussurros se querem gritos

Lágrimas se fazem enchentes

Paixões se dizem eternas.

Pelo andar de nossas pernas, rolamos pedras e seixos,

Ferimos como quem cicatriza

Abraçamos como quem ama

Nos vamos como quem fica.