GAROTO-PASSARINHO
O garoto-passarinho brincava
Brilhava o sorriso na face cristalina
Deitava na grama fofa
Vida solta, que a culpa não domina
Ecoa a voz pelo quintal
Reprime o vivaz menino
No sacro lar dos inertes
Soa estridente o sino
Alarmado, esconde o sorriso
Felicidade some no rosto esquivo
Pois mesmo contrariado
Não quer brigar sem motivo
Lustra o sujo mocassim
“Assim parece gente!” – dizem-no
Com passos encurtados
Caminha o passarinho
Não é sua natureza
Prefere os pés descalços a roupa fina,
aos bons modos ou a rotina.
Pede a benção ao pai
Que só lhe estende a mão
Anda por tudo cansado
Mal lhe dá atenção
Ele não se comporta
Vai, de bom grado, à palmatória
E como nos demais dias
Repete-se a mesma história
Os meninos riem lá fora
Seu coração esquenta de alegria
A mãe se distrai um momento
Enquanto o garoto fugia
Vivo no espaço
Sente o vento frio no rosto
Correndo o passarinho
Agora de peito exposto
Com gosto, abriu os braços
Que lhe pareciam asas
Estava feliz de novo
Afastando-se de casa
A vida de privações
À sua alma era esmola
Pois não era passarinho
De ficar preso em gaiola.