Calar-se
Há momentos,
perdoe,
em que o poeta
quer calar-se.
Fingir escutar; viajar ao longe;
deixar o bar; recolher-se ao quarto.
Mas calar-se,
advirto-vos,
não como um nada a dizer:
silenciar-se.
Calar-se
como um parir-se
à dentro.
Calar-se
como um gestar-se
à fora.
Calar-se
como um grito
no parto.
Porque o poeta,
quando cala,
escuta o apelo, pari
o grito contido silenciado da alma.