CRIANÇA
Lá vem a criança
morta de fome
de pão e de esperança.
E quanto mais pede,
mais se cansa
do não pelo pão
e o sim à desilusão.
Lá vem a criança.
O mundo é seu berço,
escola e sepultura.
Para a fome,
o sono é a solução;
para a doença,
o tempo é a cura.
Chega a criança,
espelho do que eu
poderia ser
sentir e sofrer:
"Tio, me dá um pão?"
Dou-lhe um, dois, seis pães,
um copo de suco e um olhar de mãe.
" 'brigado", recompensa-me seu coração.
Lá vai a criança,
calças rotas,
alma rota.
O mundo é seu mar
e a sua esperança
é uma gota.
Lá vai a criança
procurando por outro
"tio".
Lá vai ela.
Futuro?
Não.
Presente
do meu Brasil.
30 de Outubro de 1991