CRIANÇA

Lá vem a criança

morta de fome

de pão e de esperança.

E quanto mais pede,

mais se cansa

do não pelo pão

e o sim à desilusão.

Lá vem a criança.

O mundo é seu berço,

escola e sepultura.

Para a fome,

o sono é a solução;

para a doença,

o tempo é a cura.

Chega a criança,

espelho do que eu

poderia ser

sentir e sofrer:

"Tio, me dá um pão?"

Dou-lhe um, dois, seis pães,

um copo de suco e um olhar de mãe.

" 'brigado", recompensa-me seu coração.

Lá vai a criança,

calças rotas,

alma rota.

O mundo é seu mar

e a sua esperança

é uma gota.

Lá vai a criança

procurando por outro

"tio".

Lá vai ela.

Futuro?

Não.

Presente

do meu Brasil.

30 de Outubro de 1991

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 15/12/2012
Reeditado em 01/02/2013
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