VERGONHA
Moro naquele quartinho dos fundos,
Onde o seu orgulho jamais me visitou,
Lá, apenas ouço vozes e imagino como você vive sem mim,
Perguntando-me em que você se transformou?
Dia desses, o vento me trouxe recortes de um velho jornal,
Deu pra te reconhecer...
Tive a confirmação meses depois com "santinhos" espalhados pelo chão,
Você se transformou no “cara”, só agora fui saber...
Ouço vozes; telefone...
Conversas que não consigo decifrar;
Sei que são cifras, dólares, euros...
E, um monte de zeros, difícil de contar.
Essa é a sua vida sem mim...
Não te faço falta;
Não lhe caibo em sua agenda,
Só em seu discurso tenho pauta.
Quando dissertas, arranca aplausos,
Mas de você não tenho saudade;
Prefiro estar aqui sozinho,
Ou quem me dera estar,
Chegou-me agora aqui a sua dignidade.
Que pensei ter vindo me visitar,
Mas sem muito poupar,
Abraçando me falou:
Amiga, que saudades, eu vim pra ficar!
Onde estava não mais me cabe,
Resta-me apenas você pra me consolar.
Hoje já tenho mais amigos que você,
Que anda cada vez mais sozinho...
Ah! Tanto falei que me esqueci de me apresentar:
Eu sou a“VERGONHA”,
Que há muito, sua presunção e seu orgulho me puseram naquele quartinho.