[A Lama destes Tempos]
Minha cabeça se afunda,
some nessa água imunda
que mal reflete as luzes da cidade!
Desaparece o meu olhar, tragado
pela voragem dessa enxurrada oleosa
que escorre de invirtuosos Palácios da Justiça,
mal-havidas mansões, prisões imundas,
órgãos já perdidos da fé publica...
Essa água, de tão pegajosa,
cola os meus lábios
tranca o meu grito,
apaga a lâmpada das ilusões,
e encerra toda esperança:
— “criança, este é o teu país!”
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[Penas do Desterro, 01 de janeiro de 2007]