O cuspe da pedra

a pedra cospe

silêncio e demência

no cruzamento

de duas peles,

dois cheiros:

"entrocamento

de desejo..."

dois

sonhos, duas

mentiras se

apalpando no

escudo do medo...

(quanto se desperdiça

quando duas bocas

se estranham. não no

gosto ou no hálito,

mas na palavra engasgada....)

descofia-se do

amor fácil, do

poro ligeiro...

da queda desmedida, (como

se nao houvesse

sob o curso da pele

outras fendas e feridas

lençol e vôo

cidade e campo

em cada prateleira

dos sentidos, os dias

são trincados ( não se preocupe...

pois o amor é raro...

é tecido desconstruido

outras estradas

trombos sem asfalto

que se comeu, que se cagou

nas masmorra do ódio...

um encher e uma descarga;

indefinida, como uma

surda briga, um atalho

sem nome, um desvario

dentro da vida....

que varre uma

após a outra: "Tudo é varrido no escambo

da esperança"

não se escolhe, é escolhido

pelo campo de flor....

que se cega de sangue

E que nunca recolhe....

"Não possível: cadê a valsa

do amor?"

é de se perder quando

abre os olhos

no lajedo da

infância...( a mesma que

ainda rasteja

no chão da boca

na entrada da garganta...

no lustre

dos braços de meu

pai que na mesma

janela assiste

o desejo de ser sol...

arejado de chuva

e carcomido no

papeito da noite...

- a noite unhada de cupim

enlamaçada de varejeira

no bafo de uma goela )

já incomunicado [ morto,

na platibanda da fala que fala e que se fala...

e que não cala, pois seu caldo

ja entrou no novelo da carne )

de pedregulhos

e musgos, que

na dentada dos

anos, sobreviveu

no sono, no

calabouço do

estomâgo, onde

cachorros loucos

comem fios, um a um, ( num surto de amor?)

as estrias do medo....

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 13/12/2012
Código do texto: T4033874
Classificação de conteúdo: seguro