BOBALHICES DE AMOR

Põe-te à moldura da janela
Ou, se melhor te apraz, achega-te no terraço.
Olha a vida sob ti e debaixo de teus olhos,
Que enxergam
Mas aos quais te persistes em negar que vejam
Quaisquer dos objetos e fatos que sejam
Desta
Real e concreta
Vida.
Deixa aos ouvidos teus, mui sãos
Captar as estridências, os burburinhos, os murmúrios,
Vindos de fora dessas quatro paredes
Que, por mais adornadas,
Converteram-se em teu mausoléu em vida.
Cuida-te bem, pois esta passa e por nada te assegura
Retorno ao tempo que escapou
Entre os teus dedos, tuas mãos ...
Concede-te sentir o perfume para além dos que te chegam
Comprados,
Em frascos envasados,
Selados.
Selados como tudo que é teu,
Já que renegas dentre tudo o quanto
Não se afine com teu artificial encanto.
Uma vez que seja - e para teu exclusivo bem
Concede a ti mesma o benefício de tocar o corpo de alguém,
Mas que sem ranço ou ideia pré-concebida.
Estou aqui!
Põe-te à moldura da janela
Ou, se melhor te apraz, achega-te ao terraço,
Aqui estou,
Vem te entregar à vida!



Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 13/12/2012
Reeditado em 15/01/2013
Código do texto: T4033353
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