ANTEONTEM
Naquele tempo de anteontem
Os amigos eram mais leais
A água mais cristalina
O vento não tão voraz
Cobri-me de nostalgia
Virtualizando alegria
Do que, sequer em um dia,
Consegui experimentar
Cerrei então os meus olhos
Não vi o meu trem passar
Quando os deixei abertos
No vácuo, não me encontrava
Já cheio de lembranças
Que a mente revirava
Mesclei antes com agora
Enquanto em feitos pensava
Voar idealizado, perigoso
Cobrindo o meu presente
Que de pouco preservado
Parece-me deprimente
Só que este tempo presente
De presente me foi dado
Por torpe disposição
Dele venho esquivado
Escondido, naufragado
Engolido por passado
Onde só afluem os erros...
... Mas e o que venho tentado?
Nos sonhos desvencilhados
Com o mundo todo nas mãos
E pela vida, anulado?
As dúvidas me lancinaram
Cego, então, permaneci
Hesitando em palavras
Esperando milagres
Vivendo em distinto mundo
Oculto de inverdades
Os não-feitos, não fiz
Os malfeitos, isolei
Estilhaços, remendei
E de momentos perdidos
Por vida, até então, passei.