O Beijo (Caça e Caçador)
A noite
Doce bela e sombria
A lua
Deusa mais nobre que a vida
O perfume da dama que vaga sozinha
Odor cálido e casto que inebria
Olhos tementes... olhos ardentes
Presa indefesa ou armadilha latente?
Não há tempo... não há espaço para dúvida
Caçador outrora frio
Tomado pela fúria de tê-la para si
Desejo quente, sombrio e mortal
Ele avança silencioso como a sombra
Leve e sutil como vento
Andar lascivo felino imponente
Para sua presa defrontar
Caça e caçador frente a frente
Olhos profundos, luxuriosos contra olhos tementes
Desviantes... receosos, desejosos daquilo que a espera
Impotente frente ao desejo que tenta velar
Ele
Agora calmo como águas paradas
Sedento da vida que dela exala
Ouvindo o sangue dela a pulsar
Ela
Já não mais temerosa
Domada pelo olhar que a encara
Faces rubras devido ao seu palpitar
A boca dele, sedenta, de encontro à pele macia
Sob a qual corre o rio da vida que pretende tomar
...
(o mundo para em um momento de silêncio)
Com um beijo longo e profundo
Em seu pescoço lânguido e puro
A vida dela em um doce fluxo
O deleite dele...
A entrega dela...
Bela e fera em momento singular
Caça e caçador...
O beijo no qual tudo se encerra