UM CERTO CAPITÃO (OU... AMOR DE LIVRO)
Perdida por entre as terras,
Sozinha, no chão dos prados,
Silêncios, noites em claro,
Temores de escuridão.
Um vento soprando forte
Minuano “lembra morte”
Palavras que eram sentenças
Da avó, na roca, a fiar...
E toda noite era espera,
tristeza que se revela
ausência de um capitão.
Lenço vermelho no vento,
chapéu nas abas do tempo,
violão a tiracolo
música solta no ar.
E lá vinha o herói garboso,
montado no seu cavalo,
Apeava com estilo, dizendo:
“Buenas, que me espalho/.
Nos pequenos dou de prancha/
E nos grandes dou de talho/”.
Olhar de dono do mundo
um charme todo faceiro
histórias de viajantes
se punha logo a narrar.
Conquistava o povoado
cantando mil melodias
relatos de galhardias,
de amores e de folias,
dos homens a pelear.
Enfrentou a antipatia,
dos grandes de Santa Fé.
Pois não baixava a cabeça,
não era fraco, temente,
e com seu jeito valente
bateu o pé resistente:
disse que iria ficar!!
Pois tudo o que mais queria,
era Bibiana Terra,
A moça então, mais formosa,
que existia no lugar.
A filha de Pedro Terra,
um velho duro na queda,
que precisava dobrar.
Depois de muito sufoco,
de quase morrer à bala,
finalmente conseguiu
sua prenda desposar.
Casou-se com Bibiana,
viveu tranqüilo alguns anos,
Mas, depois, viu que era a guerra
e a vontade de lutar, as duas únicas
damas a quem podia se entregar...
Tilintares de espadas,
pistolas a disparar,
E ia o guapo pras guerras
como quem vai a bailar.
A disputar uma prenda,
sem medo de não voltar.
Tento tirá-lo da mente,
paixão que me faz doente
risada alta e marcante
que finjo não escutar.
Saio às cegas pelo mundo,
fantasiando outros rumos,
em busca de outros romances
que me desviem o olhar.
Mas, esse amor de fronteira,
de galope e montaria,
de terras e ventanias,
me toma sem perguntar.
E pelos campos eu sigo
na garupa imaginária
do soldado destemido
que eu insisto em namorar.
E as estrelas me abençoam,
os Vagalumes me guiam,
corujas me desafiam
sábias, a me espreitar.
Como é difícil essa sina
de um personagem amar!
Corro, veloz como a luz,
recebo os beijos do tempo,
choro, grito e me lamento
sem de nada adiantar.
Então, desperto do sonho,
à sombra de uma figueira...
Rogo por chuva divina,
capaz de purificar.
De me livrar da lembrança
de Rodrigo Cambará!
23/12/06
Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas Gerais)
Em homenagem à minha paixão mais recente,
o capitão Rodrigo Severo Cambará, personagem do romance
O tempo e o vento, de Erico Verissimo.