Pássaro incauto
Avistou a fonte que existia naquela janela
Fez dali seu ancoradouro; adonou-se dela
Tamanha era a sede a lhe causar insanidade
Que nem a liberdade, seu bem, o impediria
De ser atrevido ou de agir com leviandade.
Então, uma linda canção entoou em euforia
Na alegria, sorvia e via tanto aquela fonte
Que não se apercebeu, a água apodrecia
Sorrateira transformava-se em lama infame
Roubando ao pássaro sua vida, sua melodia
Incrédulo, lambuzava-se, e o fel o engolia
Não tinha mais sede, prazer nem fome...
Inda assim, ali enlameava-se em agonia
Pensava: “Se a fonte alimenta, não consome”
Insone, pensou em Ícaro, e soube-se ignaro
Seu próprio prazer estava a matá-lo
Quis fugir, mas o medo já o havia atado
Sem asas, entregou-se de vez ao claustro.