Pássaro incauto

Avistou a fonte que existia naquela janela

Fez dali seu ancoradouro; adonou-se dela

Tamanha era a sede a lhe causar insanidade

Que nem a liberdade, seu bem, o impediria

De ser atrevido ou de agir com leviandade.

Então, uma linda canção entoou em euforia

Na alegria, sorvia e via tanto aquela fonte

Que não se apercebeu, a água apodrecia

Sorrateira transformava-se em lama infame

Roubando ao pássaro sua vida, sua melodia

Incrédulo, lambuzava-se, e o fel o engolia

Não tinha mais sede, prazer nem fome...

Inda assim, ali enlameava-se em agonia

Pensava: “Se a fonte alimenta, não consome”

Insone, pensou em Ícaro, e soube-se ignaro

Seu próprio prazer estava a matá-lo

Quis fugir, mas o medo já o havia atado

Sem asas, entregou-se de vez ao claustro.

Patrícia Andrade
Enviado por Patrícia Andrade em 10/12/2012
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