Ultravioleta

Cataventos espalhando nuvens de versos

contaminando o espelho dos seus olhos.

Navegando próxima do Meridiano das Loucuras

Minha casa flutua distante do continente

longe das fronteiras e das tropas contingentes.

Suavemente toco o lado negro da minha Lua

Onde o dia é tão escuro quanto a noite é longa.

Gás Lacrimogêneo nos olhos dos apaixonados

Bombas de efeito moral nas portas das Catedrais

Aviões plantando escombros e funerais

Em terra firme procuro minha fortaleza

Vestindo meu fardão da Academia do Poeta Solitário

rastejo pelas trincheiras cheias de gritos panfletários

levando minhas anotações secretas e mapas planetários

em busca do marco zero de minha revolução.

O poeta em segundo plano, a poesia no microfone

O soldado camuflado, a bala no gatilho

Carrego cartuchos de palavras, munições de manifestos

e uma certeza tatuada em minha mente me faz lembrar

que amanhã será um novo dia quando o Sol haverá de nascer

para queimar todas as minhas peles, marcas e cicatrizes

até restar apenas um punhado de cinzas líricas

espalhadas como nuvens de versos

contaminando o espelho dos seus olhos.