LOUCURA DA VIDA.. Á Arthur Bispo do Rosário.
Não quero que me devolvam a sanidade
Não a quero,
pois perdi-me dentro de mim
E me sei bem assim.
Os cubículos do existir não me cabem.
O negro da escuridão de mim e do espaço
que habito se confundem comigo.
Não quero a racionalidade,
a logicidade humana,
porque sou fatia:
negro,
pobre,
boxeador,
nordestino,
biscateiro,,
empregado doméstico
de família.
Me permitam escutar as vozes do não aqui.
Me permitam ver as imagens.
Me permitam ser enviado.
Me permitam ter uma missão.
Quero recriar o mundo para o dia final.
Me ponham num manicômio,
em um hospital de alienados,
como indigente.
Esquizofrênico-paranoico está o mundo, as pessoas.
Não sou homem de muitas palavras,
Portanto fico feliz com um quarto-cela
onde possa gestar um novo mundo-eu
um mundo-nós.
Os status sociais não me dizem nada
já tenho o meu.
Sou regente, tenho a batuta nas mãos.
Preciso, sim, que me ponham louco.
Cadê a lobotomia,
as sessões de eletrochoque,
me deixem louco, por favor, pois a serenidade
do mundo não encontra ressonância dentro de mim.
Não preciso de obra inaugural,
sou a imprecisão e o espaço em branco
em pessoa.
Dispenso: ordem, fase,simultaneidade.
Quero a loucura em mim como missão.
Quero criar um mundo.
Quero reinventar minha vida.
(a vida só vale se for reinventada...)
Não quero pintar,
desenhar,
esculpir. Isso é para os gênios.
os mestres.
Quero antes
bordar,
costurar,
pregar,
colar,
talhar,
compor a partir do já existente
do já posto a mim.
Quero recolher do quintal da vida,
do mercado negro
objetos,
detritos,
sucatas de toda espécie
e em inúmeras combinações
compor uma listagem-vida
revida, vivida.
Numa representação geográfica e ilógica
do mundo-eu, do mundo-tu, do mundo-nós.
Quero compor uma história,
Um manto da confluência
Num ato amalgamado de apropriação e recriação
Em busca da
loucura da vida.