A DOR PEDE PASSAGEM Hospitais I
A dor pede passagem, mas
a dor pode esperar
atrás da porta
porque por hora
vou almoçar.
Peçam para a senhora na cadeira de rodas
de pele e cabelos branquinhos como flocos de neve
esperar na dor,
pois a dor pode esperar sim.
Á mulher que chora
a essa hora
obriguem-na a calar
porque como sabem a dor pode esperar.
Não há cadeiras para a dor?
Que horror!
Mas mesmo assim peçam
a dor que espere um pouco, pois é almoço.
Se a ferida lateja,
Se o corpo sangra
Se o andar é cambaleante,
neste instante
repito: peçam para esperar
de preferência a trás da porta,
não importa
peçam que espere.
A dor é muito exigente, ora
sem educação
sem estética
nem vestuário tem.
Exige demais,
portanto peçam para esperar.
Digam-lhe que aqui ela não manda.
Que já foi dado ficha
Que espere. A porta está trancada. Não pode entrar
Lembre a ela que esse é o seu ambiente moderno de ser.
Não adianta se irritar
aguarde seu lugar na fila,
Pois aqui tem ordem
Não paira a desordem
Não adianta tremer
Desmaiar
a dor tem que esperar.