no coração da noite

No Coração

eu poderia dizer que estou

vivo ( no centro

da minha vida há um

urubu latindo palavras

e o sol uiva dentro no

rabo de meu brasil

desigual...quem tem

fome...não apenas a

fome que se fala do

feijão, mas aquela

mais bruta, seca

aquela fome que

habita o coração...

homens gritam

e há celas e há cabrestos

há tumba e há desejo

no meio do serrado central

e nas cidades de ferrugem

as praças imploram olhos

e ouvidos, pele e abraço

no sufoco (estamos todos cançados...)

arredai, covarde

no coroço da noite

na nervura do escuro

no poro da vergonha

cada um tem a vida

que sonha!

a carestia toma conta

das pessoas, e a nódua

que não passa...suja

de nojo, outros tempos

pulam no coração desse homem

brasileiramente desencantado...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 08/12/2012
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