no coração da noite
No Coração
eu poderia dizer que estou
vivo ( no centro
da minha vida há um
urubu latindo palavras
e o sol uiva dentro no
rabo de meu brasil
desigual...quem tem
fome...não apenas a
fome que se fala do
feijão, mas aquela
mais bruta, seca
aquela fome que
habita o coração...
homens gritam
e há celas e há cabrestos
há tumba e há desejo
no meio do serrado central
e nas cidades de ferrugem
as praças imploram olhos
e ouvidos, pele e abraço
no sufoco (estamos todos cançados...)
arredai, covarde
no coroço da noite
na nervura do escuro
no poro da vergonha
cada um tem a vida
que sonha!
a carestia toma conta
das pessoas, e a nódua
que não passa...suja
de nojo, outros tempos
pulam no coração desse homem
brasileiramente desencantado...