CARTA PARA UMA FILHA

É quase certo, minha querida filha,

Que nunca saibas o quanto que eu te amo!

Pois sentimentos não são como as palavras

Que quando ditas, vãs e desvairadas,

Voam com o vento, soltas pela estrada.

Nem que eu vivesse mais de cem mil anos,

Nem se eu caminhasse milhões de longos passos,

Nem que eu voltasse das vidas já passadas,

Querendo te dar apenas um abraço,

Seria eu bem-vinda nos teus belos braços

Os meus carinhos tão mal recebidos,

Tímidos são os beijos que me deixas oscular,

Minhas carícias não te permeiam a pele,

Conto tolas estórias só pra te animar,

E a voz se cala ao não te ver me olhar.

Se te aconselho me recusas a ouvida,

Meus bons pensamentos mal te fazem pensar,

Minhas experiências são tão enfadonhas,

Preferes ouvir o som de outros lábios

Pois são estes lábios que te fazem sonhar.

Nunca te esperei, esta é a verdade,

Não me preparei para te receber,

Mas quando te senti pulsar dentro de mim

Descobri um mundo belo e deslumbrante,

Pensei que a solidão chegaria ao fim.

Fui por algum tempo tua luz, teu guia,

Ouvia tua voz a me chamar no escuro,

Mas o tempo passa e com ele, todo passado.

No mundo te lanças achando-o tão seguro

Vives no presente, rumo ao obscuro.

Hoje tu me foges tão amargurada

Pois não reconheces uma vã verdade:

Quem te pariu também é sangue e carne

É apenas gente, humana e até tem alma!

E a ferro e fogo já foi magoada.

Sei que sou maldita, toda mulher o é,

Não por ser culpada ou a vítima fatal,

Mas por ser a deusa pagã e destronada

No mundo dos homens que nos rouba a paz:

Prometem-nos dias felizes e depois... Jamais!

Tarde descobri que ainda posso ser

Algo que já fui e havia me esquecido.

Fostes mais precoce no caminho das pedras,

Onde também há espinhos e escorpiões,

Hoje já caminhas com lobos e com leões.

Enquanto as águas rolam sobre a velha ponte,

Ventos, tempestades, trovões a espocar,

Somos qual vulcões: loucas e enfurecidas.

Sempre esperando a bonança chegar,

E almejando na fé que o sol renascerá.

Sinto muito orgulho de seres como és:

Firme, forte, impávida nas opiniões,

Só te falta um pouco, um átomo de bondade,

Pois nem sempre é clara a real verdade

E nem só de verdade vivem os corações.

Teu futuro é belo, pois bem o mereces,

Mas nunca te esqueças de umas velhas máximas:

“A felicidade é um longo caminho

Prá dentro de nós mesmos” e que... “Tudo passa!”

Sejamos pois mulheres: fortes, firmes, livres e... Fiéis comparsas.

Franz Znarf
Enviado por Franz Znarf em 07/12/2012
Reeditado em 07/12/2012
Código do texto: T4023819
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