Eu sou...

Eu sou um ser atormentado

não sei se filho de um amor

ou se filho de um pecado...

Eu sou o que penso ser

ou o que penso saber

Eu sou aquele que ama

eu sou aquele que abraça

eu sou quem o destino engana

eu sou o alvo da trapaça...

Eu sou aquele que se ergueu...

Eu sou aquele que desmoronou!

Eu sou um vento que já passou

sou o caudal de um rio que secou...

Eu não sou pranto nem lamento

não sou riso nem contentamento!

Eu não sou gozo nem deslumbramento

não tenho ousadia nem acanhamento

não sou assim nem de outra forma

não tenho regra nem norma

e por vezes penso não ser ninguém...

Encostei-me numa esquina da vida

e não fiz alarde, como convém

pois quem para as suas festas convida

semeia barulho e colhe desdém...

Sou lento, sou sereno, sou triste

e sinto sempre um dedo em riste

apontando para mim...

Sou leal e diferente

Sou um calmo descontente...

Sou assim...!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 05/03/2007
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T402013
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