Argila

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Arrasto-me por sobre as sobras das águas

do que um dia foi um rio...

Há pedras e areia,

e nem sinal de peixes!

Ouço gorjeios de pássaros

e expressões de —"Não me deixes"!...

Antevejo os guaxezinhos,

nos vôos rasantes dos pais,

e nos ovos pequeninos

dos ninhos suspensos nas árvores!...

Do lado de fora de mim

faz frio.

Finjo que não sei

que é hora de partir,

de me vestir,

para a próxima noite de sono,

e prolongo a diversão...

Solto-me em devaneios,

e faço panelinhas de barro,

com a felicidade de crianças

que modelam massas coloridas!...

Deixo-as lá na fazenda,

bem longe das avenidas.

Visito uma ilha.

Lá estão meus irmãos, ainda pequenos.

Minha mãe tira retratos nossos

com sua antiga Kodak.

O pensamento está seco,

o sentimento está santo.

Não sei se mostro a lembrança,

ou se me cubro com um manto!...

Se eu tivesse de aprender outra língua,

hoje, escolheria o Árabe,

mas ontem mesmo teria sido o Russo.

Ai, que trabalho que dá

aprender para esquecer...

Vivenciar

para arquivar!!!

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 05/03/2007
Código do texto: T401686