O OUTRO DE MIM
Foi-se embora de mim um
outro ser. O sonhador.
Desatou-se do nada e partiu…
Saiu num galope desamparado
montado num Cavalo-poesia!
Perdi, nesta repartição,
a melhor parte de mim;
a que me era dessemelhante.
Agora tenho um olhar comum
para o que era extraordinário!
Nem sei desde quando eu era dois.
Mas o outro de mim fazia coisas
que me envaidecia. Romatizava
tudo ao seu redor, fantasiava…
Percebia nas coisas mais comuns,
traços harmoniosos; possuía uns
olhos de susto e de deslumbre,
próprios e essenciais à poesia!
Agora não consigo nem me alarmar.
Restou de mim a metade
comportável e previsível.
Não ouço mais nas manhãs
os gorjeios dos pássaros
beijando o tempo, saldando
o dia. Nem sei mais quando
é tempo de Poesia…
O mundo dormiu
belo e despertou
em tons cinz