O DESERDADO

Um homem velho pede abrigo à sombra

trás consigo o resto do que foi

um mísero nada

tem o tronco empedrado

não se move

parece atado

suas pálpebras caídas

resguardam as trevas da luz

mantem o olhar fixo

tremeluzente

seus lábios não salivam

murmuram palavras cavernosas

que de súbito vem alarmar:

vou chorar, vou chorar, vou chorar!

ouve-se gargalhadas

tudo silencia

inspira fundo

abraça os dedos enquanto pensa

suas memórias transpiram

sobre a pele do rosto ósseo

maculado pela desonra do ser homem

sente saudades?

sente medo?

sente aversão?

liberdade imperativa

puro lirismo

olha para um lado, para o outro

reclama o prometido:

eu vou chorar, eu vou chorar!

ouve-se gargalhadas

o nada acontece

e o velho bufão de barba cinzenta

é feito invisível

aos olhares daqueles que o espiam

Klaas Kleber
Enviado por Klaas Kleber em 29/11/2012
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