Sentimento de Antigo

Ainda lembro

Do tempo de boneca

Nem tão longe tempo

Fresco na mente

E na vida também

Lembro-me da pequena mesa

Redonda e de vidro

Da sala minúscula

Com cheiro de antigo

E ditos de um tempo bom

O café com leite quentinho

Meu pão-de-queijo mineiro

Os desenhos matutinos de sábado

Num pequeno apartamento, roceiro

Onde a garagem era quadra e campo

Lembro do medo dos monstros

Esses que eram sombras

Que eram cortinas

E luz na parede

Um medo com gosto de infância

Hoje eu já não quero lembrar

Nem de hoje, nem de amanhã

Porque o café já é frio

O espaço já é grande demais

Os ditos só doem

O desenho virou jornal

E os cartoons notícias de sangue

As ruas só têm máquinas

A gente sumiu

Eu também

O medo já domina

Porque quem assusta

É também chamado

Filho de Deus

Aquele bicho papão

De duas pernas, braços

De mente e coração

Mergulhados no poço do mundo

O esgoto, o futuro

O desenvolvido

Certo, não?