TEJO

Me despeço, mas não vou embora

essa é minha eterna morada

subo as escadas, mas não chego até lá

se avanço, fogem de mim

se recuo, descem ao meu encontro

não me calo

meu silêncio grita

trago notícias de lá, dos desertos ermos

trago notícias de lá, doutros tempos

minha incubência é o adeus, a saudade

sou detentor das memórias

um cristal em movimento

o perigo, a vida e a morte

dentro de mim não respiram

apagam, morrem, desaparecem

na minha beleza habitam almas e monstros

devoradores de corpos

que não sobrevivem fora de mim

vomito aquilo que rejeito

e devolvo aos homens a sua podridão, o seu lixo tóxico

me engasgo com ossos, mas não digiro oque não vive

renasço das alturas

da limpidez dos cristais

do meu espelho se mira a profundidade

de lugares submersos e sem retorno

onde vivem os meus titãs

acorrentados em caravelas

Klaas Kleber
Enviado por Klaas Kleber em 27/11/2012
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