A POESIA É UMA CASA

Esperava a sua hora, em silêncio.

A sala estava arrumada para o presente,

abrir as janelas e ver deslizar pelas paredes as outras imagens que estavam no exterior. Quando os filamentos da sombra se precipitam nos vértices da claridade.

Marco contigo um parágrafo que não termina em nenhuma pontuação. Como um líquido imperceptível que se une a um lago onde mergulhamos. Porque e

screver é assim. Esse lago, esse líquido. Talvez soubesse mais, tivesse outras metáforas.

Entre as sílabas publicitárias de um poema

onde um mundo pudesse ser escrito.

A sala em silêncio.

O espaço sem divisões. Um espaço. Amplo para meditar

as emoções. Sentir a razão por dentro das consoantes da voz,

das figuras de estilo surgidas na mente em narrações.

Se o poema fosse um território habitável.

Edificações por concluir.

Formulo uma hipótese onírica, uma escadaria subindo e descendo como

nos desenhos de M.C. Escher.

Eis os condomínios erguidos em toda a área envolvente. Num mapa arquitectónico podem-se observar imagens infinitas, o inconsciente

perdido num dédalo de sinais. De letras e frases,

vidros expondo a luz por corredores sombreados,

a penumbra fina em simbiose

com os traços mais íntimos de outros espelhos.

De reflexos ocultos.

Deixo surgir as ideias guardadas em ampolas e.

E percorrer de novo a sala arrumada que sonha (a sala que sonha) qualquer tema situado num mapa esbatido

pela ausência de limites geográficos.

Temporais.

Ouvir o corpo cair suavemente desde os ombros

à superfície de um som de cristais.

Haveria muito mais, muito mais para dizer nos ladrilhos prateados do sonho.

Um sofá branco no meio da sala.

As tais imagens inscritas na velatura das paredes, sobre a pele da parede, como figuras imperceptíveis.

Passam as horas no andar mais alto, talvez da memória.

Se fossem aves ou metáforas, seriam as aves ou metáforas.

A presença dos néons da vigília.

Os livros arrumados em estantes brancas.

Com a descrição encontro o mar, talvez no andar mais alto.

A superfície aquosa do mar e sobre ela estendem-se

os navios sempre de partida, substituídos por outros.

Outros navios que substituem navios sempre. Tudo é uma

partida em frente às janelas da casa. Da casa.

Onde uma sala branca sonha sobre os ladrilhos de um brilho ténue

e sereno como um lago translúcido.

O mar visto em toda a volta

dos dois terraços da casa.

Se o poema fosse um território habitável.

Sob o céu real, o único céu na construção

das palavras que.

Elaboram os espaços,

inventam lugares e

ficamos para sempre habitantes

em movimento.

Carlos Frazão
Enviado por Carlos Frazão em 26/11/2012
Reeditado em 26/11/2012
Código do texto: T4005793
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