Cenário bucólico

Cenário bucólico

maria da graça almeida

Doce de leite, abóbora e coco,

beijo roubado da boca do moço,

rede estirada ao sol de relance,

livro da vida esquecido na estante.

Vento ventando cantigas de amor,

crista do galo empanada na cor,

lenha a estalar no tosco fogão,

cheiro gostoso de sopa e feijão.

Bicho que pica, coceira que vem,

tarde chegando no apito do trem...

Sapo coaxa sem graça, arredio,

garça se mira nas águas do rio.

Égua que trota levanta a poeira,

homem, voltando, traz pó na canseira.

Dona a acenar na porta da casa,

ave se assusta e apressa as asas.

Filho que chora, chupeta no chão,

pão ressequido na palma da mão.

Riscos no céu, a paisagem se turva,

luz que se apaga é indício de chuva.

Cruz na janela, uma vela acesa,

prato trincado faz mais pobre a mesa.

A sopa e o feijão da pouca tigela,

não chegam à gata, não há para ela!

Sono batendo, um sopro à chama,

corpo cansado impõe peso à cama.

Sonho do homem inda é colorido,

mesmo com fome, outro filho é bem-vindo.

Maria da Graça Almeida

Da antologia da Confraria dos Poetas

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 03/08/2005
Reeditado em 30/10/2005
Código do texto: T40051
Classificação de conteúdo: seguro