A RUA E O TEMPO
Diziam que nessa rua passa boi, passa boiada
Já não passam mais, visto que tudo acabou!
Até aquela menina que era bela e cacheada
Ajeitou as malas e no tempo ela se mudou.
Diziam que nessa rua ainda morava um anjo
Dentro de um bosque que chamara solidão.
Já não mora mais. Hoje sou eu quem manjo
O que ruiu com tempo junto ao velho coração.
Diziam e comentavam sobre a falada rua do sabão
Onde no mês de junho todos saltavam a fogueira
Enquanto meninada gritava alegre: cai, cai, balão...
O tempo engoliu o balão até a madrinha festeira.
Diziam que essa rua fosse minha, mandava ladrilhar
Cantavam as entoadas moças na roda. Nessa mesma rua
Com pedrinhas de brilhantes para o meu bem passar.
O tempo acabou. Só a rua ainda certamente continua.
DIONÉA FRAGOSO