A RUA E O TEMPO

Diziam que nessa rua passa boi, passa boiada

Já não passam mais, visto que tudo acabou!

Até aquela menina que era bela e cacheada

Ajeitou as malas e no tempo ela se mudou.

Diziam que nessa rua ainda morava um anjo

Dentro de um bosque que chamara solidão.

Já não mora mais. Hoje sou eu quem manjo

O que ruiu com tempo junto ao velho coração.

Diziam e comentavam sobre a falada rua do sabão

Onde no mês de junho todos saltavam a fogueira

Enquanto meninada gritava alegre: cai, cai, balão...

O tempo engoliu o balão até a madrinha festeira.

Diziam que essa rua fosse minha, mandava ladrilhar

Cantavam as entoadas moças na roda. Nessa mesma rua

Com pedrinhas de brilhantes para o meu bem passar.

O tempo acabou. Só a rua ainda certamente continua.

DIONÉA FRAGOSO

Dionea Fragoso
Enviado por Dionea Fragoso em 25/11/2012
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