De Como Redomo Desvirou Gente
De Como Redomo Desvirou Gente
Redomo encafifava suas ninharias
encastelado no quarto onde venturava fêmeas
entre frases de Khayyám
desarrolhadas do vinho
Degredava coisas do dia
tinha mania de mascar rosas pra cuspir o sumo
- descansava as horas -
Difícil a lide com os espinhos
pois não tinha hábitos de boi
ruminante de palmas de mandacaru
asveis esguelava, tossia, chorava
é que as rosas, como as caças fugidias
tem ocasião
Ele trazia uma sombra acantilada por dentro
que lhe retesava a cara feito borracha de badogue
ou livro de capa dura
Redomo tinha cheiro de vírgula
e escarrava travessões
entre as dez e o meio-dia
expelindo alegria
Numa noite sem lua, lendo Kafka
virou traça
e até mulher só comia de papel
virou letra gorda, aprendeu a envultar
derrubar frasco de penteadeira
desinventar besteira
e passar mingau em beiço de quem reza
e fica sem dormir
virou assombração
hoje atravessa rimas
e mija em olho de formigueiro
Redomo virou o cão
entre uma frase de Nietzsche
e um diálogo com Camus
- publicada em LINGUAJÁ, O TERRITÓRIO INIMIGO -