Nunca
Trecho de "Despertar"
Quando desperto é sempre hoje ainda.
O amanhã nunca vem.
Marcos Lizardo
Nunca
Nunca digo nunca
O nunca, nunca existe em mim
Mudo-me de mim à todo instante
Sou fruta amadurecida
Só caio da árvore quando ela não me aguenta...
Fui até a sacada, olhei o jardim
E as flores estão murchando
As pétalas, despetalando
Como tudo em mim...
Levei porrada, sim... Várias
E cheguei a ver estrelas
Elas existem em si...
Quem levou porrada, sabe...
Levei porrada do Luar
Quando a noite estava sem Lua
Levei porrada do Sol
Quando chovia...
E das Estrelas?
Nunca levei porrada!
Elas brilham sempre em mim
Nas madrugadas...
Fui campeão em tudo.
Em tudo que não fui campeão...
Sou apenas dono absoluto dos versos
Que escrevo em vão...
Para passar e garimpar o tempo e as horas
Das minhas idas e vindas
Das minhas vidas de mim...
As vezes tão amargas e vazias.
Adoro contemplar o vazio
O nada no ar...
O copo que transborda poesia...
E em mim navega
Pelo Tejo, junto a ti!
Não me pergunte nada!...Me adivinhas...
Bebo cálice com vinho
E fico entorpecido de adivinhos.
O que seria de mim agora?
Sem a data do teu regresso?
Versos meus!
E voltas...
Sempre voltas...Querendo ou não...
Sempre voltas...
Que farei com a solidão
Se nunca mais voltares?
Suspenderei os ares...
Perderei o folego?
Subirei degraus,
Pularei andares,
Andarei em comboio, bem devagar...
Com as mãos na algibeira...
Quiçá!...Morro...
Quem sustentará o meu sustento?
Meu alimento?
Há!...Quem dera...
Meu enlouquecimento?
Isso sim...Também pudera
Tem que haver algum lucro
Nem que seja troco
E a quantia em moedas é imensa...
Pelo tormento.
E por toda eternidade,
Serei esquecimento....
Tony Bahia