NINGUÉM

NINGUÉM

Não, não há,

nem aquém nem além,

alguém assim

igual a você.

Há sim, em meus sonhos,

tolos sonhos,

há sempre o Você;

lhe revejo, lhe toco, lhe ouço

feito realejo e

elejo, enfim,

Você para mim:

‘eu te amo, te amo’, amo...

Ramo de flores douradas,

vejo em seus olhos meus segredos nus,

partilhados, estilhaçados;

toco em suas mãos e tremo – som de piano.

Ramalhete de jasmim,

assim, puro perfume;

ouço você a me chamar,

e a ciranda perversa toando à toa:

“_ Eu amo,

Tu amas,

Você ama Ninguém...”

Não há alguém assim

feito você...

“Eu amo,

Tu partes,

Você parte...”

Você partiu,

partindo-me,

sou alguém, sou Ninguém... partido

em pedacinhos – som dos sinos.

Buquê de rosa-rosa,

‘mon bateau’,

me afogo em imagens,

‘my mistakes’,

ventania de areia

mareia meus olhos,

você é a mais bela praia!

Fuga, ao mar!

Réquiem, Ninguém – ao som do oboé;

você é azul-e-verde mar,

sinfonia das ondas;

você é um bonito dia para

morrer; só sofrer...

Ah, cirandeiro Eros,

dói meu coração!

Olhos mutantes

negros castanhos grey-green,

estonteantes,

ai de mim, Eros!

Cabelos negros

ao sol, louros,

eu os louvo!

Ó imensidão do marecéu,

não consigo evitar,

sigo a levitar,

a balbuciar

infinito dorido

monólogo comigo mesmo.

Adágio... Albinoni

não nem ni...

Ninguém mais verá;

alguém

ser estranho

invadiu meu paraíso;

ser obtuso -

não, nenhum mais abuso.

Algum mais, jamais, pois

l’alba tudo vencerá!

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é 3 de março de 2007.