VÓ BENZEDEIRA

Menina com quebranto?

- Reza de acalanto!

Ramo de arruda na mão.

E lá vinha a vó benzedeira:

feiticeira do sertão.

Curar as dores do corpo,

as mágoas do coração.

A mão empunhava as folhas

e a coreografia de cruz,

tinha início de repente

(de certo invocando Jesus).

Que será que a vó dizia

em ritmo meio atonal?

A face cheia de vincos –

como um trajeto ancestral...

Guardiã de mil segredos,

rugas de tempo e de sol.

Olhava pro firmamento

E entoava um só refrão.

Em línguas desconhecidas

chamava espíritos bons.

Morgana da terra seca.

Deusa grega disfarçada,

princesa de Bagdá!

Senhora de cantorias

com influências de além-mar.

Fada, bruxa, rezadeira,

índia, africana, mãe-terra

Gaia de todas as eras...

Alquimia feminina...

Herança que me mantém.

Maria, cheia de graça!

Sertão ecoando: amém!

Goimar

São Paulo

08/12/06

Goimar Dantas
Enviado por Goimar Dantas em 03/03/2007
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