Vozes Doridas

Para eu falar de solidão

verbalizar meu coração

nessa minha ânsia de sentir

tanta saudade do que não vi;

terei que usar de mil palavras

que em verdade não dizem nada

somente um choro em mim contido

e um querer já contorcido.

Para eu falar dessa minha dor

terei que resignar o amor

que transpõe eras e morre em guerras

que bombardeia meus pensamentos;

deixando em chamas todos vernáculos

que eu propus em poesias

e abandonei num tabernáculo

por vários anos ou por um dia.

Então o certo será calar

deixar fluir toda sensação

deixar padecer devaneios sãos

para galgar minha insanidade;

pois sei que ela é minha verdade

diluída em óleos aromatizantes

causando olências inebriantes

espalhando aos ares minha insensatez.

E ficarei aqui sentado observando

todos os espelhos voarem nas nuvens

até que o seu reflexo surja flamejante

e se funda ao meu no sol rei fulgurante.