Tirem-me daqui!
Em um dia incomum
O sol nasceu cinza
E em vez de calor
Irradiava nostalgia
E eu apesar de ranzinza
Ganhei finalmente
A minha carta de alforria.
Eu que nunca senti
O gosto da liberdade
Saí pela cidade
Mas tudo era deserto
Pra onde eu olhava
A mesma cena me espantava:
Pessoas comendo
Asfalto e concreto.
Ao longe brilhava
Em meio ao logradouro
Uma pilha de ouro
Na verdade, alianças
Carne e sangue
Agora é cimento
Pra quê casamento?
Pra quê mais crianças?
Em pânico fui
A todos os continentes
Crianças carentes
Na África eu vi
O mundo é uma grande
Prisão sem correntes
Choro e ranger de dentes
Tirem-me daqui!