Mensagem
Não temos identidade,
Apenas invólucros culturais que nos desfiguram a face;
A verdade sobre nós está perdida desde sempre
Para os códigos da civilização;
Resta-nos somente a mensagem.
Ela passa algo que vai além do nosso dito,
Da nossa imagem que caminha desbotada na retina do outro;
Ela é um quê que nos despedaça o corpo quando dele parte
E se põe à deriva rumo ao entendimento alheio.
Mas quem realmente enxergaria a nossa sombra?
Quem, diante das incoerências da própria vida,
Buscaria letra para uma anomia não sua?
Entretanto, essa lacuna comunica no silêncio uma voz, sem intenção.
Somos todos alienados perante o espelho,
Que nada nos revela além de luz.
Usamos máscaras intransponíveis ao verbo,
Retiráveis apenas ao caleidoscópio do desejo.
O que realmente temos a dizer, não pode ser dito,
Apenas contido em uma mensagem aquém da linguagem,
Sentida no exato momento em que o corpo se despedaça.
A humanidade não passa de uma construção social.
O que realmente conta a nossa história única é a nossa singularidade subjetiva.
Não há homogeneidade e sim a alteridade que a mensagem carrega.