AOS POETAS MARGINALIZADOS DO RECIFE

Ah poetas desgraçados

essas criaturas hiperbolemente sensíveis,

por vezes afônicos no desespero

de expressar a marginalidade e o romantismo

alcoolizado das vielas nas sarjetas

Esses seres incompreendidos no tumulto do estupor

e esquecidos entre as penumbras

e toda a velocidade do consumismo

do século da tecnocracia

Ah poetas, o que procurais?

Sanar vossa febre nata?

Destruir o incêndio na ânsia de encontrar

algo não burocrático

no lirismo não sistemático do éter?

À revelia viver o revés e o avesso

das verossimilhanças

enquanto as convenções sociais os oprimem

e o capitalismo e as estatísticas

e todos os orgãos de imprensa ou de mídia

não os conhecem, nem tampouco os detestam

e quanto a vossa arte jamais se manifestam

Mesmo obstante,

a si próprios se constroem em cada poema;

ao se renegar

entre cidade, falácia e filargíria

distanciam-se no mover da tentativa

e alçam voo...

Ah poetas... podeis voar;

podeis planar o tempo todo

sem que quase ninguém se dê conta

da magnificência do voo

e da tonitruancia dos versos

Ah poetas desgraçados,

por tanto desmantelo arruinados

e, ás vezes, até engraçados

no universo verbal de sua insignificância

que é também a minha

Morpheus