Incompletude
De manhã, o café amargo
Quase frio na mesa
Estou eu, não o café
Começa a incompletude em ser
O dia da compra, do trabalho, do beijo
Daquilo tudo sem desejo
Autômato viver
Cumprimentos impessoais
Mãos que apertam com força
Olhos que exalam inveja
Todos se encontram
Todos desencontrados
De si mesmos e dos outros
Na TV, mais do mesmo
E os refúgios diminuem
Fugindo da rotina
Sei que sempre foi assim
O que hoje me domina
Ontem já fez seu confim
Futilidade encoberta
Pelo traje, pelo ato
Pela imagem
No sorriso falso
No elogio tosco
No corpo esguio,
Mas de mente vazia
Humanidade desumana
Superioridade passageira
De poder, de status
Conclusão derradeira
O acesso de vontade
De encontrar metade
Completar parcela irreal
Luta de imparidade
Procurando plural
Em individualidade
Conheço centenas
Mas nem me conheço
Esqueço de tudo
De tanto recomeço
Pareço com quem não queria
Faço o que nunca faria
Me falta um pouco de apreço
E o preço da incompletude?
É minha conformidade
O que me falta não é meu
E nunca será de verdade