NÃO QUERO O CORPO À Manuel Bandeira
Não quero mais o corpo
não preciso mais dele
Algo está diferente em mim, na existência que me toma
Não consigo me ver numa roda entre tantos.
Há uma descolagem, uma desimagem de mim e do mundo
As fotografias, os aniversários, os beijos de amor (....)
Não falam de mim. Sigo, penas.
Me sinto saindo de algo que nunca fiz parte, de uma ação não vivida
Não sonho em dar as mãos ao outro: conflito de mim
Pois os corpos não se entendem
Não, ao entendimento do físico
Será que estou sendo chato com o mundo
Ou ele é que sempre foi chato comigo.
Não sei.
Só sei que ele me espanca, me subtrai a cada instante
Não consigo mais olhar para os olhos dos outros e dizer as palavras amenas,
Quero sim gritar e mostrar que não somos,
Que somos menos,
Que não amamos o suficiente
Que a dor nos domina
Que erramos
Que somos falta
Que já não existe trompa que nos prenda
Que beijar vale a pena
Que dois e dois deve ser sempre quatro
Que o outro sou eu
Mas o grito dentro de mim não deixa dizer o que dede ser dito ao outro que me habita
Por isso grito que não quero mais o corpo
Quero a alma talvez....