[A Inundação do Amor]

[Intertexto]

__________

Quem anda neste mundo, se já viu, sabe:

certos amores são como as "enchentes de cabeceira" —

sob um céu limpo, um sol brilhante,

feito rápidas muralhas de águas viajantes,

a inundação surge de repente nas passagens dos córregos,

não há tempo para criar a mansidão de rebojos —

as águas inundam tudo, chegam ao topo dos barrancos,

arrastam os viventes que se descuidam em águas rasas,

escondem os caminhos de chegada e de saída,

e depois se vão, córrego abaixo,

ao encontro de outras águas...

Qualquer semelhança com a Paixão

é mera figuração da Natureza...

O Amor é uma tempestade não anunciada —

chove no longe dos olhos da gente,

e surge, com a força da lua cheia,

no topo da Montanha Mágica do Acaso

[é de lá que vem aquela música que inebria].

[Se eu analisar demais, perco-me,

e acabo falando sobre efemeridade...]

__________________________

[Desterro, 16 de novembro de 2012]

****************

Obs...

Quem viu, viu, e quem não viu, logo não vai ver mais, pois

todo poema é, jorgeluisborgianamente falando,

uma face que está por dissolver-se como a face de um sonho.

Assim, logo terei o prazer de exercitar a dissolução dessa [minha] face,

simplesmente apagando o poema — uma incrível facilidade destes

tempos "pós-Era das Trevas Modernas". algo assim, feito o clic

de um ataque cardíaco fulminante, um estouro de coronárias [poéticas].

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 16/11/2012
Reeditado em 16/11/2012
Código do texto: T3988893
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.