Vestígios de um Feminino Suspiro
Que mulher vive sem uma paixão aguda?
Sem um grão de carinho plantado no ouvido?
Que mulher vive sem experimentar o desatino
De se entregar por inteira?
Não me refiro às vãs aventuras simplesmente,
Ou tortas conquistas que pendem e caem.
Falo de sentir dormência na alma,
Perdoar o trauma e o susto da tal rotina.
Que mulher vive tão estática?
Sem saborear algodão doce no céu?
Que mulher nunca soprou um coração?
Que mulher não foi tocada de leve,
Nos sonhos materializados,
Ou nos beijos impulsivos no portão?
Que mulher nunca se perdeu numa poesia?
Em fragrância de névoa?
Em torpor de língua pelo corpo?
Em lençóis de seda... Nas noites de lua?
Que mulher não chora com o vazio?
O vazio que precede o fim de um dia,
Ou a última palavra de desejo.
Um gemido invade paisagens frias,
Tão sólido quanto letras,
Só pra dizer à mulher que viva.
A mulher então vive, nutre, entorpece-se.
Eterna e pura na sombra de menina;
Até que se fechem todas as janelas
E todas as esperanças de viver completa.