A BORBOLETA NEGRA
Antonieta Lopes
Brilhante, negra, ágil esvoaça
Por todo o quarto e pousa no telhado,
Parece de nanquim, na sua graça,
Mas deixa o coração amargurado.
Onde vou, ela vai, por mais que eu faça
Um gesto pueril de desagrado,
Mata-la é estilhaçar vivente taça,
Onde a vida é licor enfeitiçado.
Girou, girou, tocou-me a cabeça
E depois simplesmente foi-se embora,
Tomara meu terror logo a esqueça.
Mas voltará mais negra, não demora,
Parece a noite que anuncia, espessa,
A rota clara e tarda de uma aurora