Alimento
A poesia é curandeira
De minh'alma demente
É um um vaso de flores
Onde cultivo amores, inexistentes.
Tony Bahia
Alimento
É através da poesia que me alimento
Tardo, mas sempre me encontro.
Carrego esse fardo feito feno
Penugem que habita o travesseiro
Onde navegam sonhos.
Posso sentir o cheiro e o choro da flor
Que se movem ao vento.
Agora, lá fora
Vejo pássaros em uma árvore
Como se fossem anjos em movimento
Feito brisa-leve
No espaço tempo.
E outro mais atrevido
Que veio fazer ninho em minha lavandeira
Em um vaso que Iaiá não plantou flor
Meu pequeno amigo, tão querido
E companheiro nas horas de riso e dor...
Comida no bico, comida no bico, comida no bico!...
Num voo colorido de ida e volta
Para alimentar a algazarra esfomeada dos filhotes...
E do meu coração alface de ternura...
Sou eu quem me abraço
Quando imagino personagens
São todos nus
Feito nascente de rios em miragens.
Me embrenho nas paisagens
E os mosquitos devoram meu sangue,
Alimento...
Não morram de fome, presa e predadores
A fome sempre foi o horror dos horrores
E nada, nem ninguém merece morrer de inanição.
Sorrio ao me deleitar com o imaginário
E ouço violoncelos em silêncio
Cortado pelo canto das cigarras...
Uma luz pousa em meu peito...
Durmo, sem adormecer
Quero ver o amanhecer gritando
Abre a porta...
É através da poesia que me alimento
Fragmentos do pensamento
Com a fartura e o néctar dos deuses.
Tony Bahia