Vou embora junto à nuvem para nunca mais voltar...

Passeando os olhos no passeio das nuvens

me desprendo de tudo e vou junto a elas;

vou até aonde o vento soprar minhas velas

e não pretendo aportar em porto desse mundo.

Hoje sou daqui e hoje sou de lá, bem mais pra lá,

sou das nuvens de algodão ou de lãs de carneiros;

aqueles dos sacrifícios fumegantes da montanha

ou das nuvens de fumaça espargidas nos incensários.

Passeando os olhos no passeio dos pensamentos

vou como nuvem solitária em infinito firmamento

ou, me carrego de gotas ávidas do meu pranto

que escorre todas as cataratas em rios aflitos.

Hoje sou meu presente refletido nos espelhos

entre desvelos e concatenações sobre eu mesmo

e, quem sabe sou todas as dúvidas antigas

que amanhecem se desfazendo com o orvalho.

Voarei para não mais pousar, até desfalecer

o Ícaro que transpôs os meus sonhos precípuos

e, roubarei planetas para meus inusitados colares

enquanto os deuses antigos estão adormecidos.

E o despertar engolirá todas as eras em que vivi

e, a alma se completará em todos os prelúdios

e, não haverá dores nem mais condolências

somente partículas anímicas se fundindo ao Todo.