Fé
Sob a abóboda, uma tonalidade âmbar
Que entra quieta pelos vitrais.
Um leve aroma de incenso,
Que os dias de hoje já nem usam mais.
de joelhos, os fiéis contritos;
em pé, os devotos aflitos;
Sentados, os mais conformados.
Um grupo discreto murmura confiante
uma novena:
a esperança é grande,
a sorte é pequena,
só Deus que dá jeito.
Ave Maria, cabeça baixa, mão no peito,
Talvez um dia.
A viúva recente, a moça carente,
o desempregado,
A mãe alarmada, a sogra injuriada,
o velho doente;
uma adolescente que quer namorado.
No nicho da esquerda, a imagem parece
sensibilizada.
Também, tanta prece...
...
Lá na frente um Cristo sofrido pede penitência,
que o pecado é insistente,
o corpo é atrevido
e a gente escorrega por inconsequência.
...


                                                       Flora Figuiredo
                            “Chão de Vento” pag. 56/57 ed. GeraçãoEditorial.


Poetisa “com um tanto de Tejo a correr nas veias”  busca sonhos no fundo dos sonhos. Romântica, doce, sedutora... Poesia pura.