Medos

Medos

Tenho enorme medo de moldura, um retângulo, um quadrado,

Um quadro desbotado pendurado,

Limitado no espaço.

Tenho enorme medo do esperado.

Tenho enorme medo da mesmice, do acabado ser enquadrado.

Ser um achado, iluminado.

Tenho enorme medo de num coração ser guardado,

Aprisionado, sufocado.

Sem poder ser libertado

Não poder sair por ai caminhando liberado,

Viver livre desapegado.

Tenho enorme medo de ser enterrado

Coberto de cascalho, a vezes molhado

Por lágrimas doces e salgadas, temperadas de saudades afogadas.

Qual o mérito? Lá esquecido... Descarnado, mutilado...

Sem gritos, nenhum desabafo.

Tenho enorme medo de ser considerado

Um doce delicado

Grudento, melado

Sem presente, sem passado... Futuro indesejado.

Um ocaso.

Engraçado!

Medo?

Um caso íntimo e isolado

E pelas lembranças, abandonado!

Nandú 29/10/2012

BNandú
Enviado por BNandú em 10/11/2012
Código do texto: T3979275
Classificação de conteúdo: seguro