POÉTICA DO MUNDO
Não quero enxergar o mundo com a poesia
Ela não serve para nada
Inutilidade em essência e existência
O mundo é bruto
As flores do bem ou do mal
Não dizem nada
O dia não precisa de magia
Existe, sim, o espetáculo da morte
Nas ruas, nos becos e favelas
Desmetaforizar o que já está
O mundo é.
O mundo evolui e não cabe nesse dizer
Se transforma
A poesia está excluída
E marginal
Para que a flor no asfalto, poeta?
Ela é alimento para os famintos?
É abrigo para os desamparados?
É moleta ? ou cadeira de rodas?
A poesia não tem função
Em uma realidade de cimento e velocidades e homens.
Pronto: não quero poetizar a manhã
O sol nasce por si só
Inútil poesia
As bocas permanecem mastigando
As cirenes solicitam passagem
Os sons me perturbam
Os olhos não olham, apenas, caminham
A existência existe sem a poesia
Já disse, não preciso dela
Tirem-na daqui
Então, poesia, saia
Desocupe um espaço que não te pertence
Talvez em outras vidas fosses
Rainha, pois o mundo era magia e de deuses
Não aqui.
Não nesse instante
Quero enxergar o mundo
Real e objetivo
Poesia é para os loucos
Não há mais lua de mel.