[Cheiro de banho]

A casa tem as altas paredes caiadas de branco,

e do teto sem forro pendem, aqui e ali,

as pequenas e finas malhas das teias de aranha

que rebrilham os lampejos das facas dos raios de sol

vazados pelas várias frestas das telhas.

Do fundo do quintal, vem o distante

e monótono cacarejar das galinhas;

na cozinha, as chamas frouxas iluminam

o fogão de lenha já limpo do almoço;

na copa, a rústica mesa solitária

posta para o café das três da tarde,

o vaso das delicadas e viçosas avencas

sob a cantoneira da talha de água.

Por toda a casa, a incerteza de um silêncio,

e a tepidez misteriosa de um cheiro de banho

que se espalha até a sala da frente.

Paro e espero... o silêncio me corta em finas tiras.

Ela surge da porta entreaberta do banheiro;

eu me desprego do portal da copa, aprumo o corpo,

e ouço, vindo da sua mal divisada figura,

o claro e súbito corte de um aviso:

—"Eu já vou e não sei se volto!"

Depois, ecoa estranhamente duro,

em mim, nos vidros, nos móveis,

o último "clac" da fechadura da porta da rua.

foi o derradeiro aviso de que ela partiu.

[...E por um tempo inextenso, aquele cheiro de banho ficou no ar.]

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[Penas do Desterro, 11 de junho de 1999]

Do meu livrinho "Arribadas( O Passo da Volta)", ilustrado por Paula Baggio

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 09/11/2012
Código do texto: T3977000
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