DE NOSSOS CORPOS

Disfarço a insinuante nostalgia
por trás de uma taça de champanha.
Trato-a como se fosse apenas
um dissimulado furo na sola
do sapato.
Abrigo-me no conforto do perdão
e nas desculpas cuidadosamente
construídas em tempos de covardia.

Tua lembrança já não me consola.
Brindo em mim o que é criação
e a parte linda do pavão, penas
coloridas, artefato.
Um tempo novo me acompanha
em loucuras antigas.
Nada haverá de ser simplesmente
o que fomos um dia.

Nem mesmo os minúsculos
dizeres de afetos reprimidos
serão capazes de limitar
o que nos fez melhores
em nossos abandonos.
Temos a nos dar frases amigas,
lembrar doces crepúsculos,
resgatar os sonhos divididos.

Até sermos amigos poderemos tentar,
mas das intimidades e dos suores
de nossos corpos não mais seremos donos.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 08/11/2012
Reeditado em 01/04/2014
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