MENINA DE ENGENHO
Ah! menina Nelci
tua infância não vi passar
mas ouvindo aprendi
a história que vou contar
à sombra do juazeiro
construíste o teu lar
com boneca de sabugo
é que te punhas a brincar
os cabelos de ouro
faziam a espiga brilhar
não podias mesmo
deixar o encanto acabar
ossos secos bem lavados
na água da enxurrada
tornavam-te fazendeira
a dona d’uma boiada
banho bom era de açude
com cabaças p’ra boiar
ajudada pelo primo
é que aprendeste a nadar
o lento carro de boi
criava uma melodia
o som de porcos, cabritos, galinhas
ecoavam no teu dia
uma jovem contratada
veio te alfabetizar
mas depois foste à cidade
os estudos completar
nome de santo tinha a escola
- Jesus Maria José -
o professor era anão
e não aceitava banzé
de teu pai ocultou a verdade
de uma surra te livrou
quando com um soco acertaste
um rosto que roxo ficou
corrigir-te foi a promessa
para esquecer o ocorrido
ficou o mel da rapadura
e o lanche repartido
do leite ordenhado
aprendeste a tirar
manteiga e queijo de coalho
p’ra fazenda alimentar
herdaste do sertão a fibra
da mãe a letra bem firme
do pai lembras a bondade
quem te conhece confirme
sob protestos de todos
saíste da tua terra deixaste o teu lugar
mulher quase menina
p’ra um bom moço desposar
valeu a aventura
tiveste uma boa vida
geraste filhos e netos
longe da vila querida
hoje árvores da caatinga
imagens do campo em aquarelas
ainda enchem tua memória
das saudosas flores amarelas!
À minha amiga Maria Nelci Amaral de Brito,
que me contou a história de sua de sua infância no interior de Pernambuco, de onde tirei inspiração para este poema
Observação:A predominância da cor amarela nas flores das plantas da caatinga proporciona uma visão única de beleza em épocas de floração no Sertão do Nordeste. Entre as plantas que apresentam flores amarelas, destacam-se a Catingueira, o Sete-cascas, a Erva de São João e a Canafistula. O juazeiro produz frutos amarelados comestíveis, de gosto doce acidulado.