Flor de carne

Estava lá no cemitério...

À cabeceira daquela sepultura

Entre grades e concreto.

Olhei pra ela, em oração

Estava lá, erguida,

Estranha e atrevida

Em forma de um coração

Como a dizer ao mundo

Que o seu Cônego da bondade

Amado, na pura simplicidade

Delicia-se com seu cheiro...

Carne, carne da carne

Do medo, da escravidão

Do sofrimento, da excisão

De um povo tão sofrido

Outrora tão massacrado

Desdém de um passado

Numa linda região...

Vassouras respeitosamente

Acolhe essa estranha flor

Em oração, silencioso aplauso

Àquela que, com força e glória

Mantém vivo o labor da história.

E eu a vejo lá,

Toda vez que aparece

O que a gente vê, não esquece

E a emoção que a gente sente...

Não dá nem pra descrever.

(A flor em questão existe. Desde a época da escravidão - precisamente final do séc. XIX. Uma incógnita, até para o mais cético dos cientistas. E só cresce em novembro - nos "Finados"...)

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 07/11/2012
Reeditado em 07/11/2012
Código do texto: T3973822
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