Flor de carne
Estava lá no cemitério...
À cabeceira daquela sepultura
Entre grades e concreto.
Olhei pra ela, em oração
Estava lá, erguida,
Estranha e atrevida
Em forma de um coração
Como a dizer ao mundo
Que o seu Cônego da bondade
Amado, na pura simplicidade
Delicia-se com seu cheiro...
Carne, carne da carne
Do medo, da escravidão
Do sofrimento, da excisão
De um povo tão sofrido
Outrora tão massacrado
Desdém de um passado
Numa linda região...
Vassouras respeitosamente
Acolhe essa estranha flor
Em oração, silencioso aplauso
Àquela que, com força e glória
Mantém vivo o labor da história.
E eu a vejo lá,
Toda vez que aparece
O que a gente vê, não esquece
E a emoção que a gente sente...
Não dá nem pra descrever.
(A flor em questão existe. Desde a época da escravidão - precisamente final do séc. XIX. Uma incógnita, até para o mais cético dos cientistas. E só cresce em novembro - nos "Finados"...)