EPÍLOGO-CANÇÃO DA MORTE

 

 

Sob o peso de minhas botas de chumbo,
no chão queimado, jaz a última batalha.
Aquela que travei após acordar um dia,
e perceber que apenas eu fui massacrado.
E a oração fraca diz: Salva-me, Oh pai.
Mas é deserto e a fé está lá,
naquilo que eu ainda não pude ver.
Minha farda tomou minhas memórias,
e minha arma tomou minha compaixão.
Silêncio...
Espera. Mas que coisa espera?
Talvez a sombra, para ocultar o remorso,
talvez a esperança, dentro de um corpo tão velho.
Não, lá longe seu lar não mais espera.
Sua memória foi enviada na forma de uma bandeira,
e seu amor carbonizado numa pira funerária.
E para onde mais se arrastaria seu pensamento,
senão para o horizonte que cai atrás do mundo,
para onde vai todo o esquecimento e o futuro?

Você nunca quis tomar parte nesse invento,
porque sabe que é tão humano quanto todos.
E tudo o que toca destroi ou modifica,
até os laços que o prendem ao coração alheio.
E eu, soldado que quis fugir da morte,
vi que ela era minha sombra, minha alma,
minha resposta e minha última palavra.
Cada tiro foi uma exclamação da minha ira,
porque daqui, ninguém sairá vivo.
Estejam todos na paz de um rebanho,
ou sozinhos num deserto após a batalha.

E o pensamento é árido e imperfeito,
para não ver o terror de cada vida estilhaçada.


Massacre da santidade, minha fé é suja.
Os lábios mentem o terror a cada extinção,
só para que no abandono de minha luta vã,
ninguém mais tenha as chagas que levo só.

Jamais se escreverá cartas,
jamais haverá um caminho para casa.
jamais um trem partirá, levando notícias,
nem o amor, de fato, salvará.
Haverá apenas nas mãos a escolha,
entre o deserto de almas tombadas,
e o desaparecimento dentre a multidão que se arrasta.

Até que tudo seja uma prova de vida,
oficialmente tudo é uma expressão da morte.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 06/11/2012
Código do texto: T3971779
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